O Ser-se desdobra-se em trabalho de arte.

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No dia 22 de novembro de 2017, Júnia Azevedo inaugura Obsceno, exposição de arte com curadoria de Lia do Rio, no Midrash Centro Cultural, no Rio de Janeiro. Trabalho é um desdobramento do romance O Ser-se, lançado em 2014. Obsceno é uma amostra de um trabalho artístico que Júnia vem desenvolvendo a partir da intervenção em bonecas do tipo Barbie, numa reflexão sobre o imaginário feminino. “A artista nos transporta a um universo onde o lúdico e a ficção se fundem, permeados de símbolos e lembranças de infância. Encontramo-nos numa espécie de Second Life, num mundo humano no qual o sofrimento é tema recorrente”, explica Lia do Rio.

Bela resenha do jovem Guilherme Gonçalves para O Ser-se

Compartilhando. Leia aqui: http://escrevarte.com.br/2015/08/o-ser-se-de-junia-azevedo-editora-circuito.html

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RESENHA

O Ser-se. A essência do ser. Para onde vai o pensamento de quem quer ser-se? O que há de mais humano em ser perfeito? Esses pensamentos permeiam o romance de Júnia Azevedo. Uma narrativa que aprofunda no mais inóspito calabouço da alma. Que rasga o véu da inocência e faz a realidade transparecer ao interlocutor.

O livro baseia-se no pensamento da personagem principal que o livro todo chamada de ´X`, uma mulher de 40 anos, que procura libertar-se de si mesma. Libertar o seu eu.

A personagem procura no sexo e erotismo a auto realização; apesar de não se considerar uma mulher atraente – cada época com um amante diferente – ela começa a experimentar sensações novas, na busca desesperada de libertar sua mulher interior. Sua vida é cercada de contradições por seu intelecto frágil. Mas não se porta como tal, enganando e sendo enganada.

O ser-se é um romance com traços característicos de um poema. Um livro profundamente incalculável em seu significado, onde Júnia Azevedo, com muita maestria, conduz a narrativa como uma ótima escritora. O livro não tem exatamente uma história completa com começo meio e fim, mas ele aprofunda detalhadamente no pensamento oblíquo da personagem que é o mecanismo principal para que seja transmitida a ideia central do romance.

O ponto forte do livro, é a base analógica que a autora faz com o pensamento filosófico. Ela incorpora a síntese do filósofo Sidarta Gautama – Buda – o não eu, que é o estado em que o ser humano supera o ego. Supera o ´EU`. Sendo o ser apenas uma pequena peça neste imenso quebra-cabeça que é o universo. Que não somos mais importantes do que qualquer outra coisa. Por exemplo veja este trecho do livro. Pág. 26:

[…] Estarão preparando o meu sepultamento? Morri na mesa de operação? Haverá alguém para segurar com ternura minha mão? Para rezar pelo meu restabelecimento? Para acariciar meus cabelos? Para lamentara a minha morte? Onde estão todos que construí no meu pensamento? Todos se dissolveram junto comigo? […]

O livro é impecável quanto à grafia, o fluxo narrativo e essencialmente o envolvimento personagem/interlocutor, que é uma dos pontos chaves para entender o livro. A fonte é um pouco pequena, mas dá para ler tranquilo. A capa possui uma escultura que a meu ver, parece ser de gesso. É uma cabeça com pregos a perfurando e uma corrente se entrelaçando entre os pregos. Confesso que não entendi a relação do livro com a figura da capa. Mas é algo que intriga.

Eu gostei muito de O ser-se, é um romance que hipnotiza o leitor. Foi como se eu fosse tirado da minha própria mente e colocado no pensamento da personagem, algo que prezo muito nem um livro.

Enfim se você gosta de romance com conceitos filosóficos de existência antinaturalista, leia O ser-se. Se não, também leia. Pode ser que você não venha a gostar do livro, mas garanto que ele te levara para o mais escuro abismo da alma.

Sobre Guilherme Gonçalves

Tem apenas 19 anos, nasceu em São Paulo e mora em Minas Gerais. É fascinado por livros de ficção fantásticas e ficção científica. É músico, leitor, desenhista, amante de filmes e séries. Escreve críticas para o blog Escrev’Arte.

Dar errado é dar certo

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“Porque, na vida, dar certo é dar errado. Dar errado é dar certo. A vida é experimental. A vida é o imprevisto. Buscamos a perfeição mas é no erro que ela acontece. No esmalte que cai rodopiando e suja o chão, mancha o tapete e o sofá. No morcego que entra pelo basculante e come a banana na fruteira. No almoço que queima na panela. No copo cheio d’água que se espatifa no chão. A vida é a experiência do desvio. É a liberdade do imprevisto. A vida é só a partida. Não é a chegada. É a busca, e não o encontro.”